Bolsa sobe e dólar cai, com alívio da tensão entre China e EUA

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Guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo foi amenizada pela decisão americana de retirar proibição a empresas do país de fazerem negócios com a chinesa ZTE.

O Ibovespa abriu em alta nesta quinta-feira, 12, com a recuperação dos preços das ações no exterior. A valorização de commodities, como o petróleo, também favorece o tom positivo no mercado brasileiro. Às 12h17, o Ibovespa subia 1,42%, aos 75.457 pontos. Todas as principais ações do mercado brasileiro subiam mais de 1%, com destaque para Santander, que avançava 5,87%.

Em baixa conduzida pelo apetite dos investidores por ativos de risco, o dólar à vista recuava 0,52%, aos R$ 3,8552 às 13h04. A divulgação do aumento do índice de inflação ao consumidor dos EUA abaixo do esperado em junho ante maio deu força ao movimento de queda. A moeda americana chegou a reduzir parcialmente as perdas, mas sem abandonar o terreno negativo mesmo sem intervenção extraordinária do Banco Central.

Bolsa. Como observou o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira, o mercado doméstico reage positivamente à recuperação global dos preços das ações e, em alguns setores, a uma perspectiva positiva para o início da temporada dos balanços. “As ações dos bancos sobem bem à espera dos balanços. Outro destaque é o setor de siderurgia hoje”, afirmou. Perto do horário acima, a ON da CSN subia 6,08%. A PNA da Usiminas avançava 7,04%. Com o fechamento em alta de 1,14% do minério de ferro no mercado à vista chinês (porto de Qingdao), a Vale também sobe. A ON da mineradora ganhava 1,11%.

Em entrevista ao Broadcast, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou que o leilão de apenas três distribuidoras da Eletrobrás – Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron), Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre) e Companhia de Energia do Piauí (Cepisa) – está mantido para o dia 26 de julho. Já a venda da Amazonas Energia e da Boa Vista Energia, de Roraima, dependem da aprovação, pelo Senado, do projeto de lei 10.332/2018, que cria as condições para a venda dos ativos. “Se não viabilizar caminho da privatização, a saída é a liquidação [dessas distribuidoras]”, disse o ministro.

Em meio à entrevista do ministro, a Eletrobrás perdeu parte da força vista pela manhã. As ações PNB passaram a cair, enquanto as ONs desaceleraram a alta. Às 12h53, a preferencial caía 0,93%. A ON subia 0,90%.

Na entrevista, Guardia afirmou que o ministério revisou a projeção do PIB para 2018. Disse que a equipe está trabalhando com um crescimento de 1,6%, no qual são baseadas todas as previsões fiscais, assim como as estimativas para a arrecadação tributária. A nova projeção do governo é superior à mediana das estimativas do mercado financeiro. A última atualização do Relatório de Mercado Focus mostra que o mercado prevê uma expansão de 1,53%. A Guide Investimentos espera um crescimento de 1% neste ano.

Segundo um operador do mercado de ações, o resultado no varejo, divulgado nesta quinta, não influenciou os preços das ações. O IBGE anunciou que as vendas no comércio brasileiro caíram 0,6% em maio ante abril, na série com ajuste sazonal. O resultado veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde uma queda de 3,90% a ligeiro avanço de 0,10%, com mediana negativa de 0,70%. Cinco entre oito atividades do varejo registram perdas em maio de 2018 ante maio de 2017, refletindo os efeitos da paralisação dos caminhoneiros no abastecimento do comércio, segundo o IBGE.

Dólar. Segundo operadores de câmbio, o ajuste interno acompanha a queda da moeda americana frente outras divisas emergentes ligadas a commodities no exterior. Outro fator é a confirmação pelo presidente americano, Donald Trump, de que manterá os EUA na Otan. O presidente da França, Emanuel Macron, porém, negou a afirmação de Trump de que os aliados concordaram em elevar os gastos com defesa o mais rápido possível para além de 2% do PIB. Macron confirmou a meta de 2%.

Além disso, as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo foram amenizadas até o momento pela decisão americana de retirar a proibição a empresas do país de fazerem negócios com a chinesa ZTE. Pesou ainda o avanço do petróleo mais cedo (os preços viraram para queda no fim da manhã), após o tombo de quase 7% em Londres na quarta-feira, e também de metais básicos, como minério de ferro e cobre.

Nesse ambiente, os agentes locais deixaram em segundo plano, por enquanto, as preocupações com as contas públicas, reacendidas pela aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019 na quarta à noite, assim como os fracos dados das vendas no varejo do País.

Para Jefferson Rugik, diretor da Correparti, o mercado praticamente ignora as perspectivas de deterioração das contas públicas porque é imediatista e se preocupa mais com o curtíssimo prazo. “Passou por cima até agora da piora fiscal, cujo quadro é periclitante, por ser um problema que só o próximo governo vai ter que resolver”, avalia Rugik.

O diretor da Wagner Investimentos José Faria Júnior concorda que o exterior é o driver dos negócios e destaca, em relatório, o fim da proibição de negócios dos EUA com a ZTE, que beneficia o setor de tecnologia em todo o mundo, além de resultados corporativos norte-americanos como indutores do apetite ao risco.

Na quarta-feira à noite, o Congresso aprovou a LDO e outras Leis que geram gastos de aproximadamente R$ 100 bilhões nos próximos anos, continuando com a farra fiscal antes das eleições ao aceitarem as pressões de corporações, afirma o executivo da Wagner Investimentos. Ao mesmo tempo, ele observa que a baixa do dólar ante o real apóia-se na percepção de que o fluxo cambial está favorável. Na primeira semana de julho, houve entrada de US$ 2 bilhões, principalmente no segmento financeiro. No ano, o fluxo cambial total é positivo em US$ 24,6 bilhões, ressaltou. O diretor da NGO, Sidnei Nehme, também atribui ao fluxo positivo à ausência “acertada” do Banco Central com intervenções extraordinárias no mercado cambial.

Pela manhã, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que o superávit primário somente será atingido em 2023, quando chegará a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2022, o resultado primário será nulo. Nas previsões divulgadas em abril, o resultado positivo do Orçamento seria atingido um ano antes, em 2022, quando alcançaria 0,1% do PIB e subiria para 0,6% no ano seguinte. O Fundo não mudou suas previsões de déficit primário de 2,3% e 1,8% do PIB para 2018 e 2019, respectivamente.

O FMI alerta ainda que a economia brasileira registra um desempenho abaixo do potencial, a dívida pública é alta e está subindo e as perspectivas de crescimento no médio prazo continuam “não inspiradoras”, em meio à ausência de reformas. A projeção de crescimento foi revisada para baixo, para 1,8% do PIB brasileiro neste ano, abaixo da estimativa de expansão de 2,3% publicada em abril. “O crescimento é projetado para 1,8% e 2,5% em 2018 e 2019, respectivamente, conduzido pela recuperação do consumo doméstico e pelo investimento”, apontou o fundo.

Fonte: https://economia.estadao.com.br/

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